O título acima nos remete à tantas festas de nossa Igreja, porém aqui veremos apenas a presença destes dois elementos dentro do que estamos celebrando: a Semana Santa.
Algumas celebrações são pertencentes à liturgia oficial da Igreja Católica, como o Domingo de Ramos, o Tríduo e a Vigília Pascal e o Domingo da Páscoa. Por outro lado, a piedade popular estabeleceu a procissão do depósito (Nossa Senhora das Dores e Nosso Senhor dos Passos), a celebração do encontro entre Mãe e Filho, as encenações, o descendimento da cruz e a tradicional procissão do enterro de Cristo, realizada na sexta-feira à noite.
Piedade popular é a maneira de o povo viver sua fé, seguindo tradições espirituais que vêm de séculos. Na Idade Média, a liturgia se afastou do povo e se tornou um assunto do clero. Era feita em latim, que não era mais a língua do povo. Este, distante, criou sua forma de se relacionar com Deus partindo, sobretudo, dos aspectos humanos da vida de Cristo, como Nascimento, Paixão, Eucaristia, dores de Maria, devoções aos santos, relíquias, santuários e devoções, como o terço, a via-sacra. Salienta-se neste tempo a humanidade de Cristo. A própria estrutura eclesial assumiu a piedade popular. Essa piedade sustentou e santificou o povo por séculos. E ainda é importante: como é uma cultura, não se muda de um dia para o outro.
A piedade popular é diferente do culto litúrgico, que é "o culto oficial prestado pela Igreja Católica com Cristo e por Cristo a Deus". Porém, apesar dessa diferença, "tem acontecido ao longo dos séculos que certas expressões da piedade popular passaram à liturgia (festas do Natal, do Sagrado Coração de Jesus, do Imaculado Coração de Maria, etc.)".
Mas, a piedade popular não é contraditória com a liturgia, sendo aceite e até, em muitas vezes, recomendada pela Igreja. Porém, é de salientar que ela não pode substituir a liturgia e todas as pessoas que a praticam devem estar sempre lembrados que todo o culto católico é, em última instância, dirigido e prestado à Santíssima Trindade.
Por outras palavras, a liturgia é o critério, o culto oficial, a forma vital da Igreja no seu conjunto alimentada directamente pelo Evangelho. A religiosidade ou piedade popular significa que a fé cria raízes no coração dos diversos povos, entrando a fazer parte do mundo da vida quotidiana. A piedade popular é a primeira e fundamental forma de "inculturação" da fé, que deve continuamente deixar-se orientar e guiar pelas indicações da liturgia, mas que, por sua vez, a fecunda a partir do coração.
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